segunda-feira, 8 de agosto de 2016

PRESCREVA NATUREZA


FERNANDO AZEVEDO


Num antológico samba de Ataulfo Alves uns versos são desconhecidos da geração atual: “eu igual a toda a meninada/quantas travessuras que eu fazia/jogo de botão pelas calçadas/eu era feliz e não sabia”. Leio um importante artigo CHILDREN AND NATURE de um grupo de estudos de Minneapolis, escrito por Richard Low onde enfatiza a importância do contato da criança com a natureza por toda a vida, mas, sobretudo do zero aos seis anos, período segundo a neurociência onde deve ser feito o maior investimento sociocultural de um povo. Ele chama a atenção para o fato da falta de conexão da geração de hoje com a natureza, trocando a beleza dessa harmonia por brinquedos de plásticos, computadores e essas falsas modernidades que embotam a inteligência. Estudos evidenciam que a criança que vive em contato com a natureza, com o campo e os animais são crianças menos hiperativas, mais solidárias, menos agressivas e, além disso, reduzem a obesidade, alergia e aumentam a capacidade cognitiva. As crianças de hoje sofrem do TRANSTORNO DE DEFICIT DA NATUREZA, segundo Richard Low. As que a aproveitam fabricam mais melatonina hormônio atuante no sono, aumentam o cortisol e reduzem o stress, inflamações e o sistema imunológico. Todos que acompanham o Pediatria e Arte sabem o quanto defendo o contato de crianças com cachorros e o quanto publico no facebook filmes sobre isso. No consultório, mantenho um aquário para que as crianças pelo menos vejam o que é um peixe e lá fora está meu bebedouro e comedouro onde os passarinhos fazem a festa para quem chega e quem sai. Todo o verde que está lá eu plantei e José cuida muito bem. Não tenho um cachorrinho porque seria demais. Plantar uma árvore ou mesmo adotar uma árvore de sua rua pode ser uma atitude pequena de grande importância. Na minha infância isso não faltou. Na minha vida prolonguei esse prazer numa casa onde eu dizia que tinha Gravatá na frente e São José da Coroa Grande atrás. Plantei e comi coco, carambola, jambo, pinha, goiaba, cajá, abacate, mamão, banana, sapoti, caju e manga. Fiz horta onde colhia meus coentros, salsas, tomates, couves e alfaces e me faziam companhia no mínimo cinco cachorros, papagaio e passarinhos soltos. Isso é pra lá de bom. Fogão de lenha, forno, churrasqueira e piscina completam o cenário da minha “praia”. “Hoje não temos mais espaços”. Concordo em parte, mas compre terra, faça num local possível uma pequena horta, deixe a criança pegar e sentir e agradecer à terra que nos sustenta e não aos computadores e i-phones que paralisam a criatividade e nos torna robôs sem graça e sem conversa. Fim de semana sem shoppings e com contato com natureza de praia e campo. Prescreva natureza e verão o quanto será delicioso para todos.

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