segunda-feira, 12 de outubro de 2015

BRIGA DE MÉDICOS

FERNANDO AZEVEDO

Cinquenta anos de profissão são suficientes para contar histórias. A ASMA foi um problema para os pediatras da minha geração. Os remédios eram péssimos: adrenalina subcutânea, aminofilina intravenosa, xaropes cheios de efeitos colaterais. Dolorosas séries de vacinas antialérgicas faziam parte também do cardápio deixando a criança permanentemente tensa e sabe-se que o psiquismo alterado deflagra a asma. Depois da criança ou jovem superar uma crise aguardasse a próxima. Status de mal asmático era o nome que se dava aos que não conseguiam sair da crise e viviam sempre chiando. Não tendo medicamentos bons uma das grandes armas era conseguir com um morador da caatinga um Cancão. Lá vinha o bichinho numa gaiola, local totalmente inadequado a qualquer pássaro e, sobretudo ele que vive em grupo com outros Cancões. Não demorava muito e o bichinho morria e acreditava-se que o menino passava a asma pra ele e ficava bom. O pássaro que se danasse. Uma senhora de engenho de Nazaré da Mata, avó de meninos meus sugeriu Corona branca. Trouxe-me umas plantinhas e fiz uma plantação no consultório. As folhas deveriam ficara num jarro no quarto da criança preferencialmente na mesa de cabeceira. Foi um teste de fogo para um caso de um asmático grave que não saia de crise, filho de um professor de química. E não é que deu certo! Dava Corona pra todo mundo. Um padre de um colégio vendia um óleo de boto e tinha fila para comprar. A natação era uma escolha, mas nem sempre uma criança tem vocação esportiva, mas a água fria e o exercício pulmonar davam grandes resultados nos casos persistentes. A medicina melhora. Surgem os sprays conhecidos como “bombinhas”, corticosteroides por via oral ou inalado associados ou não a broncodilatadores, antileucotrienos para uso contínuo e a doença passou a ter uma evolução bem mais favorável, diminuindo muito a alta mortalidade e sequelas. Paralelamente aos medicamentos a Fisioterapia respiratória, a já citada natação, o Pilates vieram dar um enorme apoio ao tratamento. Agora os endocrinologistas começam a publicar que as bombinhas com corticoide podem prejudicar o crescimento final da criança em até 3 cm. Em certas partes do corpo esses três centímetros a mais podem ter uma importância enorme gerando até apelidos, mas na altura final? Não essa não cola, porque os benefícios superam em muito qualquer efeito colateral que as bombinhas possam registrar e é muito mais lógico uma criança feliz que um adulto um pouquinho mais baixo (se é que é verdade). Todos os medicamentos apresentam uma lista assustadora às vezes de contraindicações e efeitos indesejáveis, mas os benefícios superam. Não esquecer, no entanto que os esportes bem orientados, exercícios especiais como o Pilates e a fisioterapia são mais importantes que drogas.

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