segunda-feira, 10 de agosto de 2015

MÃE CHATA (2)


MÃE CHATA (2)
 
FERNANDO AZEVEDO
 
Estou aqui no Recife-Brasil porque meu bisavô que era português não quis ser padre, profissão determinada pelo seu pai. Fugiu num navio para o Brasil e piratas atacaram a embarcação e o destino foi o Recife. Falando fluentemente inglês numa época na qual os ingleses dominavam tudo, tornou-se um intérprete de negócios e ganhou bastante dinheiro, deixando uma boa herança que meu avô torrou. As profissões eram impostas. Passam-se mais de cem anos e a coisa continua assim. Se não chamarmos de imposição não podemos deixar de chamar de “sugestão”. Acreditam pais que só o vestibular salva e não é assim. As crianças e adolescentes têm direito de procurar os seus caminhos e os pais a sensibilidade de apoiá-los, aconselha-los, lógico que com a experiência como mais velhos, mostrar exemplos. Uma vez há muitos anos atrás fui convidado por um grande colégio do Recife para falar sobre a vida de um médico. Foi interessante pela participação da plateia. Não imaginem ser uma profissão fácil. Se não existir realmente uma vocação será um tormento, daí muitos médicos infelizes e viciados em drogas como se isso resolvesse. O exemplo é aplicado para todas as profissões. Escrevi uma vez no Diário de Pernambuco um artigo sobre os Concurseiros. Conseguem um emprego que lhe dará remuneração perene, tudo bem, mas se não gostarem do trabalho e se forem lotados num lugar inóspito vão padecer. Tive três empregos: ambulatório do Instituto dos Bancários e com a união dos institutos depois, transferi-me para o Hospital Barão de Lucena onde ensinei durante 25 anos. “Carimbador” de contas de convênios de hospitais com o INAMPS, torturante, com demissão pedida em pouco tempo e Professor da Faculdade de Ciências Médicas onde exerci uma coisa que adorava que era o ensino, mas também pedi demissão após 10 anos quando as turmas duplicaram de tamanho e dava aulas práticas para mais de 20 alunos, um engodo. Também pedi o chapéu sem arrependimento. Herdo então do meu bisavô a procura pelos meus caminhos acordando diariamente com disposição para mais um dia de trabalho, acreditando nos meus ideais. Cantar sempre, tocar meu violão escondido de tão mal que está minha performance e tocar um pianinho medíocre para incômodo dos vizinhos. Uma criança tem que ser estimulada, sobretudo a ler coisas interessantes que a despertem para o conhecimento geral, para formar seu patrimônio cultural. Leituras interessantes, aprazíveis não esse monte de besteira que está na grade escolar obrigatoriamente. Não tive mãe chata felizmente, apesar dos meus “pedidos de demissão” de alguns colégios.

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