segunda-feira, 24 de novembro de 2014

TESTE DA LINGUINHA

FERNANDO AZEVEDO 

Já ouviram falar? Recebo hoje uma comunicação da Sociedade Brasileira de Pediatria que os senhores deputados pela lei federal 13002/14 sancionada pela presidenta e publicada no Diário Oficial da União em 23/6/2014 institui a “obrigatoriedade da realização do Teste da Linguinha” em todo o território nacional. A Sociedade Brasileira não foi consultada e muito menos a Brasileira de Otorrino e emitem nota que “não existe nenhuma evidência científica que justifique tal legislação”. Parece brincadeira, mas suas excelências são realmente assim. Vale consultar quem é o proponente e quem assinou.  A anquiloglossia ( língua presa) é um exame rotineiro na evolução da criança pequena e são raríssimos os casos e não precisa nenhuma lei para me obrigar a fazer uma coisa que se faz desde que inventaram menino. Houve um tempo, logo no início de minha vida médica que se fazia esse procedimento de cortar o freio da língua em consultório tendo havido acidentes hemorrágicos e essa prática banida.  Haja imbecilidade a nos rodear. O Teste da Orelhinha e do Olhinho que começaram sendo feitos em bebês prematuros,  se estenderam a todos os bebês. São importantes para evitar diagnósticos tardios com perda no tempo de recuperação dessas crianças. Glaucomas, cataratas e outras afecções podem ser diagnosticados logo ao nascer e assim a intervenção é imediata. Surdez que só se percebia muitos meses após a criança ter nascido também se detecta no primeiro mês. O Teste do Pezinho importantíssimo para o diagnostico de doenças metabólicas, hematológicas, infecciosas, genéticas, endócrinas também foi um grande avanço.
A sugestão que faço à Câmara de Deputados e a insigne Presidenta que sancionou a proposta é que transfira o Teste da Linguinha para os Geriatras e deixe os Pediatras em paz.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

DOUTRINAÇÃO MARXISTA NOS COLÉGIOS.

FERNANDO AZEVEDO

Há mais ou menos 15 dias estava na casa de um colega e ele comentava revoltado sobre uma reflexão feita pelo neto que tem pai e mãe médicos. Aluno de um dos colégios mais conceituados do Recife e onde está o PIB pernambucano, o adolescente comentava com a “cabeça feita” que os médicos brasileiros não trabalhavam. E ele em casa sabe o duro que os pais dão, prejudicando mesmo até o maior convívio entre pais e filhos. Jornada dupla de trabalho dos dois nesse estressante dia-a-dia. Mais uns dias e o menor com apenas cinco anos de idade, trouxe a frase feita que “empregada doméstica é uma escrava do patrão” logo ela que tem cada dia, justos direitos e tantas condescendências que não são toleráveis por outros patrões na indústria ou no comercio. Agora entendo tudo lendo um artigo de Gustavo Iochspe (ESTÃO ACABANDO COM O PAÍS) na mais importante revista do Brasil, a VEJA, odiada pelos que fazem o mensalão e petrolão. (edição de 12/9/2014). Seria muito interessante vocês pais e alunos lerem esses comentários. Cada dia mais importante na formação de um cidadão/cidadã está o preparo intelectual que a nossa escola não da, excetuando-se as de alto padrão. A escola pública é um fracasso e a compensação é criada através das cotas. Não sou um pessimista de forma alguma, mas pela idade comparo épocas. Tive uma irmã que frequentou toda a educação fundamental na Escola Governador Barbosa Lima Sobrinho, escola pública de qualidade. Outras no mesmo padrão existiam no Recife, Olinda e nas cidades do interior aonde toda a juventude vinha preparadíssima para o vestibular e morar na Casa do Estudante. Quem não recorda o Ginásio Pernambucano? Tenho um filha Professora de Educação Fundamental formada aqui e concursada no Recife onde lecionou no Silva Jardim e em São Paulo onde leciona em Diadema. Cada dia mais desestimulada e aguardando a aposentadoria o que é uma pena, mas decepção perfeitamente compreensível. Não há estímulo para professores e não falo de salários e sim de estímulo profissional, valorização pedagógica. Qual o jovem de hoje com boa formação intelectual que quer ser Professor de escola? Fico preocupado agora com a “politização” de crianças que mal sabem ainda o ABC e as primeira operações. Não teria a menor dúvida se fosse pai jovem de questionar esse assunto em reunião de pais e mestres. Que inversão de valores é essa? Primeiro cultura, depois discernimento sociopolítico. Inverter isso é copiar tudo de ruim que nos cerca como Bolívia, Argentina, Venezuela com seu famoso “bolivarianismo”seguindo o modelo do sanguinário Fidel. Aonde vamos com isso?

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

ESCLARECENDO A ESCARLATINA



FERNANDO AZEVEDO 

Existem no momento, sobretudo em duas escolas de ensino básico, casos de Escarlatina. A doença é importante? Claro que sim, aliás, como qualquer doença. É motivo de pânico? Claro que não, e é sobre isso que quero comentar. A Escarlatina tem esse nome pelo tom avermelhado mais vivo que assume a pele, diferente de outras doenças que também mancham a pele como o Sarampo, Rubéola, Mononucleose infecciosa, Dengue etc. O agente responsável pela Escarlatina é o Streptococcus pyogenes, ou Estreptococo beta hemolítico. Essa bactéria habita a garganta e uma cepa a eritrogênica (quanto nome difícil!) produz a Escarlatina. Outras cepas são responsáveis por amigdalites somente, febre reumática (a mais séria pela possibilidade de danificar válvulas do coração) e a glomerulonefrite difusa aguda, doença renal. Quando há um caso de Escarlatina deve-se ficar atento a outros, mas sem a paranoia que está de formando ou como foi formada, exigindo exames de secreção de garganta para a criança voltar às aulas. Não é bem assim, pois o que não tem nada na garganta hoje pode daqui a algum tempo vir a ter. Fica-se então atento a doenças febris para então focar uma atenção maior. Não se fecha colégio nem se faz quarentena. O estreptococo pode também habitar a pele e esses ferimentos, sobretudo nas pernas onde os insetos picam e a criança coça e inflama pode ser o seu habitat. É o impetigo, vulgarmente chamado de “pereba”. Essas lesões são contaminantes. O diagnóstico da Escarlatina é clínico. A criança tem febre, garganta inflamada, e rapidamente passa a apresentar a pele avermelhada com aspecto "em lixa", áspera, sobretudo no tronco e face e depois membros, e coçam muito, o que pode fazer  a mãe pensar que é uma alergia e retardar o tratamento. A língua apresenta características importantes, é a chamada língua de morango e a idade geralmente a de cinco anos pra frente. O diagnostico diferencial mais importante é com a Doença de Kawasaky que apresenta um quadro parecido mas que leva a lesões vasculares sobretudo coronarianas e temos que reconhecer e tratar com hospitalização e exames. O tratamento da Escarlatina também é simples com uma dose única ( e inesquecível ) de Benzetacil intramuscular ou com antibiótico via oral para aqueles que não estão com vômitos e apresentam um bom estado geral. Fiquem somente atentos mas não “apavorados”. Num ambiente onde existe um caso, espera-se por outros mas não existe EPIDEMIA como relatam.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

CINQUENTA ANOS DE PEDIATRIA SESSENTA E SETE ANOS DE ARTE



FERNANDO AZEVEDO

No próximo fim de semana estarei com muita alegria em Gravatá comemorando os nossos 50 anos de formatura em Medicina, turma de 1964 da Faculdade de Ciências Médicas de Pernambuco. Estarão presentes esposas, filhos, filhas, genros, noras, netos e até bisneto de uma colega. Temos realmente que comemorar. Alguns colegas assistirão lá de cima em visão privilegiada, mas com espírito presente na festa. Será muito gostoso relembrar todo esse período e nossa caminhada numa carreira extremamente difícil. A vida médica não é serena e exige muitas renúncias. A falta de vocação será um desastre futuro sem sombra de dúvida porque todos somos humanos e sujeito a erros. Quando a exercemos com afeição a possibilidade diminui, mas não deixa de existir e num piscar de olhos uma carreira é destruída. Temos que ter essa conscientização permanente sabendo que um dia erraremos pois como dizia Miquel Couto, grande médico do passado “o médico que não erra é aquele que nunca teve um cliente”. Bailarinas caem no palco, tenores quebram a voz em cena, pintores borram suas telas, pois somos rigorosamente gente. O médico tem problemas pessoais, financeiros, de relação profissional, noites pessimamente dormidas em plantões e isso pode abrir a porta para um deslize involuntário. Ao médico é aconselhado tirar dois a três períodos curtos de férias. Nunca um mês inteiro, pois perde os reflexos de raciocínio lógico e habilidades manuais. E “médico não deve ser somente MÉDICO, pois quem sabe só Medicina nem Medicina sabe” É interessante derivar para hobbies que o relaxe para o dia seguinte. No meu caso a MÚSICA me atraiu desde pequeno. Minha avó paterna era pianista e minha tia materna que sempre morou conosco era Professora de piano e aos 7 anos dava minha primeira audição no Teatro de Santa Isabel. Poderia ter sido um bom pianista, tinha talento e vocação, mas não tive maturidade para resistir ao preconceito que “piano é pra mulher”. Não combinava com o atleta que  eu era de basquete e futebol. Minha tia inconformada me deu um violão quando passei no vestibular e Lulu Antunes as primeiras lições. Passei de um instrumento de mulher para o de “vagabundo” Continuava o preconceito. Esse companheiro muito mais leve que um piano ficou diversas vezes empenhado como garantia de pagamento em farras improvisadas. Duro era ir busca-lo dia seguinte em lugares suspeitos. Resisti a tudo e todos e fui o aluno laureado da turma. A música foi sempre minha companheira e tenho meu registro como médico e como músico no Conselho de Medicina e na Ordem dos Músicos. Voltei a tocar um pianinho de nada. Composição musical também entrou na minha vida e quando ouço minhas palavras e a melodia de Claudio Almeida na voz de Cauby Peixoto ou minhas palavras e melodia de Fernanda Aguiar e minhas próprias na boca do povo como “Acorda Recife acorda, que já é hora de estar de pé” fico arrepiado. Valeu e está valendo a pena as duas coisas. Medicina e Arte. Aposentadoria? Não me imagino de pijama pois nunca tive um.  Baltasar Gracian grande pensador espanhol no seu livro A arte da prudência aconselha “abandonar as coisas antes de ser abandonado por elas”. Procurarei saber com visão crítica esse momento. Parabéns a todos os colegas de hoje e de ontem e um eterno agradecimento aos meus pirralhos que me fazem aos 74 anos ser seu companheiro de brincadeiras.