segunda-feira, 18 de junho de 2012

CRIANÇA, PROFISSÃO: BRINCAR.

FERNANDO AZEVEDO
Li um maravilhoso artigo na Folha de São Paulo, NA PRESSA E NA PRESSÃO, escrito por Rosely Sayão (psicóloga) que afirma tudo que escrevo e que falo sobre essa neurotização familiar e escolar de adultizar uma criança. Querer que aprenda a ler e escrever precocemente, que tenha atividades educacionais permanentes para “prepará-la para a vida” como já chegou a dizer uma mãe ao tentar matrícula em uma escola. Criança não tem nada a fazer a não ser brincar o dia inteiro. Lógico que os pais devem ler para elas, contar histórias, cantar, colocar músicas boas para que não eduque seus ouvidos com música de baixa qualidade, conviver, passear, esquecer esse massacre cultural, para orgulhosamente comparar o filho de 4 anos que já sabe escrever alguma besteira com outro analfabeto. A criança que é pressionada muitas vezes detesta no futuro, ler, estudar e cumprir obrigações. Torna-se triste ou já nasce triste. Não gosto de me posicionar como exemplo de nada, mas represento uma geração digamos que teve sucesso na vida. Convivo com gente alegre e risonha. Fomos para a escola com seis anos. Aprendemos rapidamente a ler e escrever, pois a “maturidade da idade” facilita. Nada nos preocupava. Quando se ia apara a escola estávamos ávidos para conhecê-la e não se via menino chorando agarrado com a mãe não querendo entrar. Já estávamos maduros. Depois da escola primária, vinha o ginasial, outra época deliciosa na pré-adolescência e adolescência, também sem pressa e sem pressão. Começávamos a conviver com as organizações sociais da gazeta escolar, com seus chefes e subchefes que ditavam o destino. Jogar futebol em Boa Viagem era ótimo, melhor que saber quantos metros tinha o Everest e resolver o teorema de Pitágoras.  Em frente da igreja de Boa Viagem na pracinha, alugava-se calção de banho e lá deixávamos nossas roupas e livros. Lá pra 10h30min já tínhamos feito tudo, pegávamos o bonde ou ônibus e voltávamos tranquilamente para casa.A mãe de um dos nossos, desconfiou da vermelhidão dele e lambeu a orelha. Era sal puro. Haja porrada e muitas risadas dos não lambidos. Outra gazeta boa era Dois Irmãos. Apreciávamos a natureza, aprendíamos a remar nos barcos no lindo lago que havia, não o de hoje lamentavelmente quase seco. Olhávamos os bichos, apreciávamos nossa fauna e se encontrássemos gazeteiras (também havia gazeta feminina) preferíamos explorar a flora, caminhando pela mata e observando as folhas secas do chão. Muito melhor que saber por que Napoleão perdeu a guerra. Se o colégio não oferecia esses prazeres e vivências nós fazíamos a nossa produção independente.  Depois vinha o científico ou o clássico e as tendências se estabelecendo “sem pressa e sem pressão” e sem perceber já estávamos na universidade. Quando a “inexorável” me levar, vou pensar que ainda sou tão criança nos meus 72 anos. Que pena!

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