sexta-feira, 11 de maio de 2012

O alcoolismo na adolescência


FERNANDO AZEVEDO PEDIATRA
 fj-azevedo@uol.com.br
Recife, sábado, 21 de janeiro de 2012
Matéria publicada no Diário de Pernambuco.             

Na minha geração (nasci em 1940) e nas anteriores, época dos grandes boêmios do Recife, ninguém escapou da bebida e do cigarro. É como se diz: “não tem virgem na zona”. Não me sentei à mesa de um bar com Hugo da Peixa e Waldemar Marinheiro, mas conheci os dois. Outros grandes boêmios profissionais, sobretudo no mundo artístico, consagraram-se e contam-se suas historias realmente deliciosas. Silvio Caldas, que começara a gravar um disco no Rio de Janeiro, interrompeu o trabalho e veio para o Recife encontrar-se com a boemia local. A gravadora passou um telegrama exigindo sua volta. Ele respondeu: “impossível, começou a safra de caju”. Conta-se dele também uma correspondência que enviou para Hugo da Peixa e como não sabia o endereço, colocou no envelope: Para Hugo da Peixa - Qualquer bar - Recife. Lógico que a carta chegou ao destino, o Maxime. Geralmente o hábito do álcool começava na adolescência ou mesmo na infância, porque era “engraçado” ver criança bêbada. Como eu era muito inapetente minha mãe me dava para beber, num cálice, uma gema crua cheia de vinho do Porto que eu engolia de uma vez e adorava (o vinho do Porto). Remédios continham álcool. Ainda me lembro de Glimiton que eu tomava para a falta de apetite com muito prazer. A culpa de a gente beber tão cedo era primeiro o desconhecimento total dos malefícios do álcool e em segundo lugar o pós-guerra com os filmes americanos onde os grandes astros bebiam uísque e fumavam e o adolescente copiava com idolatria. 

Acontece que o hábito não era diário. Como Reginaldo Rossi descreve em sua música A raposa e as uvas, “e tudo que a gente tomava eram três, quatro cubas” nas festinhas de brotos para ter coragem de tirar uma moça para dançar enfrentando a “carranca do pai” sempre presente. O que acontece hoje é que o adolescente está bebendo muito porque as oportunidades são diárias. O gatilho é o ócio praieiro, as férias nas praias onde todo dia tem eventos, papos de bar ou em casa dos veranistas. Acabam as férias e as faculdades têm um bar junto. Um não, muitos. Aí começa a dependência. A propaganda permanente da inocente cerveja usa figuras simpáticas e carimbadas como Zeca Pagodinho, Ronaldo Fenômeno, Romário, de sucesso profissional e financeiro absoluto na vida. Num golpe baixo usaram Sandy a eterna virgem que de uma hora para outra torna-se devassa. Cachê milionário, corrupção ativa mesmo. 

Tenho tido problemas no consultório e não são de contar nos dedos. Não é possível assistir um interminável show sem tomar muitas. Quem está escrevendo foi vítima de uma pancreatite alcoólica provocada por duas latinhas de cerveja que tomava todo dia antes de jantar há muitos anos. Hoje aposentado do copo há três anos, mas com a mesma alegria e o palhaço saindo em todos os carnavais, dou o aviso e quem avisa amigo é. Se beber, beba com moderação mesmo e não diariamente.

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