segunda-feira, 15 de agosto de 2011

OS INTERCAMBISTAS (1)


OS INTERCAMBISTAS (1)

FERNANDO AZEVEDO

Já que Viva Disneyworld teve um record de acessos, vamos abordar um outro assunto de adolescentes. O INTERCÂMBIO.  Anos atrás (30 anos mais ou menos) minha filha estava no aeroporto quando chegavam umas americanas para intercâmbio. Enquanto aguardavam uma amiga, o chefe da agência perguntou a Érika se ela não gostaria de participar recebendo uma “irmã americana”. Seriam 3, 6 ou 12 meses de hospedagem. Erika estudava inglês e já falava com fluência relativa. Topei então os três meses porque não daria tempo da americana aprender português, se fosse simpática deixaria saudade e se chata ia embora logo. Seria e foi um treinamento intensivo para ela. Acontece que a menina e a família não sabiam nada a meu respeito, nunca trocamos correspondência. Chega-me uma linda adolescente, filha de um oftalmologista de Detroit, separado da mulher, super simpática. Como minha casa era uma festa permanente (no mínimo 10 grandes festas por ano- quem freqüentou sabe) era época junina e fiz um arraial do bom com muita dança e a lourinha arrebentou os corações jovens e arranjou uma paquera logo na primeira noite. Era época também do famoso bar Água de Beber na Praça de Casa Forte. Fins de semana com cebola recheada com charque, escondidinho e a galega foi endoidando com a alegria do ambiente. Com toda honestidade Érika nunca foi de chope ou outra qualquer bebida. A hóspede trouxe só uma sacola de roupas nas costas, mas ai a turma emprestava vestido, sapato e até madrinha de casamento foi. Certa ocasião um paulista que era noivo de uma amiga de Érika combinou para que a noiva, minha filha e a americana fossem de ônibus até Maceió e de lá viriam por carro conhecendo as praias do litoral sul até chegar à Recife. Lindo, maravilhoso! Só que no dia da viagem de ônibus aconteceu um temporal daqueles e caiu uma barreira na estrada. Tiveram que atravessar a pé enfiando as pernas no barro até o outro lado onde outro ônibus transportou os passageiros para a capital. Tudo bem voltaram com saúde, mas com grande dificuldade. Para os quatro só aventura e risadas, para mim só preocupações. NÃO TINHA CELULAR. O mais interessante é que semanas depois chega uma carta da mãe da galega se reportando num recorte de jornal americano a uma vitória de Ayrton Senna em Detroit, uma meia página. Ao lado uma pequena nota tipo tijolinho: Maceió-Brazil – uma forte tempestade causou mortes e desabamentos ... E eu em meus pensamentos: e tua filha lá. Acontece que não recebi nenhuma instrução a respeito das obrigações e responsabilidades com a hóspede intercambista e ela integrou minha família e amigos e amigas de minha filha fazendo as coisas normais de qualquer jovem da época, mas muita coisa poderia ter acontecido e eu iria responder. Depois soube que era tudo proibido. Se soubesse antes, não teria recebido, pois não iria modificar meus hábitos de forma alguma. Sempre adorei uma cantoria, minha casa era um clube que fez com que na demolição muitos jovens amigos de meus filhos fossem as lagrimas. Durante um bom tempo ela se correspondeu (cartas), depois casou e não sabemos mais dela. Saiu amando o Brazil.
PS – outra moça americana que ficou locada em Piedade quando foi uma vez lá em casa não parou mais. Pegava um ônibus e quando menos se esperava estava na porta. Aprendeu português em uma semana. Na próxima vamos inverter. Vamos ver o que acontece com os pernambuquinhos que vão aprender inglês por lá.

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